The War

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A Árvore dos Sonhos - Jon Avnet

Foto: Árvore no Parque do Ipirapuera - SP
Fotográfa: Alice Rangel

L'Argent de Poche

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Na Idade da Inocência - François Truffaut

Foto: Criança no espelho
Fotógrafa: Alice Rangel


A Hora da Estrela

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A Hora da Estrela - Suzana Amaral

Foto: Close-up modelo
Fotógrafa: Alice Rangel
Edição: Alice Rangel

The Agony and the Ecstasy

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Agonia e Êxtase - Carol Reed

Foto: Modelo com Poá
Fotógrafo: Maikon Rangel
Edição: Alice Rangel

A Woody Allan Movie

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Um filme, qualquer filme de Woody Allan

Foto: Show - Banda Tortuga
Fotógrafa: Alice Rangel

Chicago

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Chicago - Rob Marshall

Foto: Festival Tudo é Jazz 2008 - Ouro Preto
Fotógrafa: Alice Rangel

Der Himmel über Berlin

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Asas do Desejo - Win Wenders

Foto: Gaivotas sobrevoando a Lagoa da Conceição - Florianópolis
Fotógrafa: Alice Rangel

In weiter Ferne, so nah!

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Tão Longe Tão Perto - Win Wenders

Foto: Folhas em Itabirito
Fotógrafa: Alice Rangel

The Old Man and the Sea

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O Velhor e o Mar - John Sturges

Foto: Jogo de Cartas numa praça em Florianópolis/ Praia de Florianópolis
Fotógrafa: Alice Rangel

Shrek

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Shrek - Andrew Adamson/ Vicky Jenson


Foto: Criança com boneco Shrek, supermercado Carrefour - Bh shopping
Fotógrafa: Alice Rangel

The Little Rascals

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Os Batutinhas - Phenelope Spheeris

Foto: Festa do Pijama
Fotógrafa: Alice Rangel

Diarios de Motocicleta

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Diários de Motocicleta - Walter Salles

Foto: Praia de Florianópolis
Fotógrafa: Alice Rangel

Much Ado for Nothing

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Muito Barulho Por Nada - Kenneth Branagh

Foto: Crianças brincando
Fotógrafa: Alice Rangel

Le Charme Discret de la Bourgeoisie

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O Discreto Charme da Burguesia - Luis Buñuel

Foto: Lata de sardinha marca Burguesa®
Fotográfa: Alice Rangel

É preciso matar esse amor






Em momentos como esses é que frases como ‘nada é por acaso’ passam a fazer sentido. Quero dizer que é preciso um bocado de bom humor para enfrentar essas esquinas sem se dobrar nos chavões, e eu estava tentando. O mais forte que eu consigo achar a graça distorcida, eu estava tentando com tudo que tenho rir disso. Chovia frio, o que não me ajudava...


Talvez o mais sagaz dos homens fraqueje algum dia, mas naquela hora eu iria vencer. Olhei fixo para o que estava disposto, nos fundos do prédio a ardósia molhada acolhia os últimos pingos e ali, justamente à minha frente, um pedaço da tinta saía, deixando parte da estrutura cinzenta da parede aparente. Eu olhava para aquela falha tentando entender, tentando descobrir o que eu iria fazer, quando notei – eu era puma parede descascando, lentamente se rendendo em meio à chuva. Era isso, eu não mais observava, eu era parte da cena, eu era parte da parede que deixava à mostra suas falhas. Do outro lado a tinta escorria se diluindo na ardósia escura, e desse lado eu escorria lacrimosa me fundindo à chuva.


Então ali estava eu, um rasgo de vida. Era um desatino com todo o resto, mas imagino que se você pudesse me amar, e me amaria ainda mais naquela hora, quando eu destoava, defeituosa e quebrada. Como eu amava aquele pedaço sem tinta, feio, mas vivo. Como eu te amava naquele momento, ainda mais forte e arrebatador do que todas as outras horas. Porque meu amor, não há instante mais pleno que o derradeiro e talvez a vida inteira passe meio morna pelos passantes da avenida apenas para no instante final arder no peito, confirmando que até ali estávamos vivos. Então até ali, bem ali, eu estava viva, aquecida por essa febre.


Devo confessar que eu não esperava amar-te tanto, parte porque eu não esperava te deixar tão cedo. Mas e se certas coisas não morrem? Suspendem esse último momento pendendo esse traço de vida por todo o resto? Ficaria eu então, latejante, desconcertada, enquanto fosse eterno? Não. Nem eu com tanto entusiasmo em provar minha existência suportaria o peso de uma vida que se estende ao eterno, como uma canção que toca, ininterruptamente, sem ninguém para escutar. É preciso matar esse amor. Porque por mais que eu amasse aquele pedaço de parede ele será sempre o pedaço desgraçado; denegrido; enxotado; o que as pessoas tentarão esconder, e eu não posso, não posso viver às margens desse amor.


Sinto que estou prestes a arrancar-lhe, mas você aparece, como uma visão maligna e me volta o infinito curvado para a esperança. É preciso matar, pois enquanto vivo ainda te espero.


Os suicidas são sempre vistos com a covardia de quem não soube tentar, mas se eu me vejo sozinha, atirada à dureza da ardósia, tendo apenas meu peso para me levantar, como não cortar as cordas que suspendem essa vida mal querida amarrada numa esperança ilógica?


Não, os suicidas são visto aqui como grande bravos que souberam dar cabo ao último momento, ainda que fosse esse o que dá sentido a todo o resto, e não se deixaram apaixonar. Porque eu, certa da necessidade do crime, fraquejo, estendendo minha súplica a você – vamos, me pinte novamente, não me deixe aqui descascada. Mas você não vem – ora! Vamos então, termine de arrancar esse amor. Nada de novo.


Tenho certeza que vão me aprisionar nessa pintura se eu não sair dela com minha própria pernas, pisando sobre os escombros da minha loucura - você. Eu preciso rir agora, abrir uma saída para mim. Abandonar a pintura, a parede descascada, a menina quebrada.


Desviei meus olhos, esperei que você também desviasse de mim. Quase creio ver um sorriso de canto quando qualquer migalha você me oferece, e eu; uma maltrapilha, alimentando o nada com esse vazio; acordo para a esperança que se desgraça e me faz crer num novo dia, esse dia se passa e eu tenho, com minhas próprias mãos, matá-lo. Nasce; morre; arredia um novo dia, e o mesmo amor.


Estou agora fora de qualquer delírio, mergulhado no meu vazio que tem seu nome, seu único nome encrespado em cada estranho espaço dessa dor.


Descobri que sou capaz das mais vis ousadias, estou diante dos mais numerosos assassinatos. Em série vou matando a cada dia minha vida, que não deixa de passar; uma fênix vadia; pela mesma via. Aquela horrível, em que eu soluço, seco lágrimas e me esqueço de tudo – até das belas feiúras que me levam ao papel. Fecho o livro, seco os olhos, retraio o corpo, mas ele continua se levantado com a sobra do dia. Lentamente me tomando - Amor.